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História, sociedade e educação: o ensino superior e o desenvolvimento local

Paulino José Orso, João Carlos da Silva, André Paulo Castanha, Marcela Rebeca Contreras Loera
Muito se tem discutido sobre a relação entre educação e processo de desenvolvimento social, sobre o papel da Universidade, tanto em relação à produção científica, quanto à socialização do conhecimento, como sobre sua importância e sua função social. Não resta dúvida de que a universidade é produto das transformações históricas do homem e da sociedade e que ela vai assumindo formas, contornos e características que correspondem à etapa de desenvolvimento, à consciência da época e às exigências e possibilidades sociais. Assim, em função das transformações ocorridas até o momento, a universidade vem ganhando cada vez maior importância, uma vez que, por meio de seus agentes, ela pode contribuir significativamente com a apropriação e socialização dos conhecimentos historicamente produzidos, o que vale dizer, com a produção e compreensão do homem, da história e da sociedade e seus processos de transformação, com o desenvolvimento social e com a melhoria das condições de vida da população como um todo. Entretanto, também tem sido bastante comum deslocar a educação do conjunto das relações sociais, dos processos econômicos e políticos e, ideologicamente, atribuir-se a ela a responsabilidade quase que exclusiva, tanto pelo desenvolvimento econômico dos países como pelo desenvolvimento social. Não resta dúvida que a educação tem lá sua importância em tudo isso, mas também não resta dúvida de que ela não tem nenhum poder mágico e de que sozinha não pode resolver todos os problemas. Em relação a isso, pode-se dizer que a educação tem seus limites e possibilidades. E colocar a questão das possibilidades e limites da educação, significa colocar a questão da função social da educação e do seu alcance. Neste sentido, trazemos presente experiências que demonstrem concretamente o alcance da educação. É nesta perspectiva que se insere esta coletânea intitulada História, Sociedade e Educação: o Ensino Superior e o desenvolvimento local, organizada conjuntamente por Paulino José Orso, João Carlos da Silva e André Paulo Castanha, docentes do Grupo de Pesquisa em História, Sociedade e Educação no Brasil – GT da Região Oeste do Paraná – HISTEDOPR – e por Marcela Rebeca Contreras Loera, da Universidad de Occidente (Culiacán - México). Reunindo produções sobre aspectos do Ensino Superior realizadas por intelectuais do Brasil, da Argentina, do México, da Venezuela, de Cuba, da Espanha e da Alemanha, pretende-se dar uma contribuição a respeito da discussão sobre o Ensino Superior e sua história, sobre a especificidade da universidade, sobre o papel da pós-graduação, sobre a função social da universidade e como ela pode contribuir com o desenvolvimento local. Com esta publicação, pretende-se socializar estudos e pesquisas de distintos pesquisadores, de diferentes países dos continentes americano e europeu – da América Latina, do Caribe, da América Central e da Europa, tendo como elo unificador a questão do Ensino Superior. Desta forma, procura-se não apenas ampliar a socialização de conhecimentos e contribuir com a consolidação do grupo de pesquisa do HISTEDOPR, como também, estreitar relações e ampliar o intercâmbio entre investigadores, grupos de pesquisa e instituições de deferentes países, além de divulgar positivamente o nome da Unioeste para além de seus muros e fronteiras locais e nacionais. No processo de desenvolvimento da pesquisa científica transitamos das pesquisas individuais, para as pesquisas impulsionadas por grupos e, destes, para articulações mais amplas, quer seja em âmbito nacional ou internacional. Os grupos surgem e se organizam em torno de preocupações e afinidades de pesquisa particulares. Neste sentido, o Grupo de Pesquisa em História, Sociedade e Educação no Brasil – GT da Região Oeste do Paraná – HISTEDOPR, surgiu de um coletivo de pesquisadores vinculados à Unioeste, em seus diversos campis, que vinham desenvolvendo atividades acadêmicas, estudos e investigações no campo da História da Educação. Uma vez organizados, o HISTEDOPR passou a incorporar mais pesquisadores, de tal forma que potencializasse a realização de atividades no interior da universidade, contudo sem esquecer tanto da articulação dos diferentes níveis de ensino, como da comunidade externa. Assim, foi desenvolvendo pesquisas, organizando grupos de estudos, promovendo Ciclo de Debates periódicos e contínuos (desde 2003), organizou um Curso de Especialização em História da Educação Brasileira (que já concluiu sua terceira turma e conta com mais de 80 monografias defendidas sobre a História da Educação, principalmente envolvendo temáticas relacionadas à Região Oeste e Sudoeste do Paraná) e, além disso, articulou-se a um grupo de pesquisa nacional, o HISTEDBR, com sede na Unicamp, coordenado pelo Prof. Dermeval Saviani, que congrega pesquisadores de todas as regiões do país. Com isso, estendem-se muito as possibilidades de estudos, pesquisas e também de socialização de conhecimentos, uma vez que, todos os anos são realizadas Jornadas de Estudos ou Seminários em um dos estados brasileiros, além de ter canais para divulgação das produções, para publicação de livros e periódicos científicos da área. Junto aos eventos realizados anualmente, também se fazem reuniões com os líderes dos GTs (atualmente são 35) do HISTEDBR, para definir estratégias de ações, as frentes de pesquisas e os próximos passos a serem dados para a continuidade dos trabalhos. Depois da articulação nacionalmente, fez-se uma incursão externa, procurando reunir pesquisadores que, em seus países, também vêm desenvolvendo investigações em torno das mesmas linhas em que o HISTEDOPR vem atuando. Assim, inicialmente, estabeleceram-se contatos com pesquisadores da Argentina e do México, dos quais, resultou uma publicação, editada no México, sob o título: Educación Superior y Cooperativismo, congregando pesquisadores deste país, do Brasil e da Argentina. Dentro desta perspectiva, dando sequência a esta articulação, foram ampliados os contatos e envolvidos pesquisadores de outros países, que possibilitaram desenvolver outras ações, das quais resultou esta nova publicação, denominada de História, Sociedade e Educação: o Ensino Superior e o Desenvolvimento Local, desta vez, a ser editada no Brasil, envolvendo intelectuais do Brasil, da Argentina, do México, da Venezuela, de Cuba, da Espanha e da Alemanha, congregando estudos e pesquisas sobre aspectos do Ensino Superior destes diferentes países. Assim, além das diversas atividades e iniciativas que cada um dos pesquisadores vem desenvolvendo em seus países, em suas Instituições de Ensino Superior locais, com as ações conjuntas e com a socialização do conhecimento também ampliamos as possibilidades de compreensão e de intervenção social, quer seja em âmbito local, nacional ou internacional. É neste sentido que se insere esta publicação e que a mesma ganha relevância e que se pretende dar uma contribuição. Tudo isto demonstra a importância das ações coletivas, da organização em grupos de pesquisas, da articulação entre diferentes pesquisadores, do estabelecimento de intercâmbio entre instituições e países que, como enfatizamos, não só permitem ampliar as possibilidades de conhecimento e compreensão da realidade, como também de enfrentamento dos problemas sociais, que cada vez mais exigem ações coletivas. A coletânea História, Sociedade e Educação: o Ensino Superior e o Desenvolvimento Local está organizada me três partes, reunindo treze artigos, produzidos por vinte e oito pesquisadores, sedo três da Venezuela, dois de Cuba, seis do México, nove da Argentina, seis do Brasil, um da Espanha e um da Alemanha. Todos trazem como objeto comum de investigação o Ensino Superior. Da primeira parte denominada Ensino Superior, História e Sociedade, integram três artigos. O primeiro deles, que abre a coletânea, traz por título As universidades européias no período pré-moderno (século XII -1800), de autoria de Peter Johann Mainka, mostra que as universidades são instituições genuinamente europeias, que nasceram na Europa da Alta Idade Média e, a partir daí, espalharam-se não só pela Europa como pelo mundo inteiro. O autor destaca ainda que, apesar do Estado ter aumentado enormemente a sua influência sobre as universidades no período pré-moderno delas, entre o século XII e o fim dos Tempos Modernos, por volta de 1800, não conseguiu acabar com a autonomia que as havia caracterizado, especialmente, na fase inicial das mesmas. No artigo intitulado Ensino Superior brasileiro na primeira metade do século XIX: uma leitura a partir dos documentos, André Paulo Castanha analisa algumas medidas desencadeadas pelo Estado brasileiro para organizar o ensino superior na primeira metade do século XIX, especialmente relacionadas aos cursos de Direito e de Medicina. Destaca que, ainda que estabeleça o recorte temporal na primeira metade do século XIX, o estudo concentra-se entre 1827, data da institucionalização dos cursos de Direto e meados da década de 1850, período marcado por uma fase de estabilidade política, na qual aconteceram significativas reformas nas faculdades de Direito e Medicina. Em O papel idealizado para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em sua criação, Paulino José Orso traz à tona o papel atribuído à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras – FFCL – da Universidade de São Paulo – USP. De acordo com o autor, as pesquisas revelam que ela havia sido pensada e idealizada para ser o elo integrador da universidade, na qual todos os estudantes que adentrassem à instituição deveria passar e permanecer durante dois anos para receberem a formação denominada “humanística”, leia-se os princípios liberais e só depois iriam para as áreas específicas do conhecimento para concluírem sua formação técnica e profissional. Isto revela que, mais do que uma proposta de educação, intentavam erigir um projeto de sociedade, ou então, por meio da educação pretendiam consolidar um determinado projeto de sociedade. Da segunda parte, intitulada Ensino superior, sociedade e desenvolvimento local, integram sete artigos, que além de ocuparem-se do Ensino Superior, estão voltados para a questão do desenvolvimento local, ou então, da relação entre aquele e as sociedades locais. Educación, innovación y nuevas tecnologías frente a la interpelación de la pluralidad y de la desigualdad socioeconómica en América Latina, o primeiro artigo da série, de autoria de Pablo Christian Aparicio e María del Carmen Silva Menoni, aborda os processos de mudança pelas quais a educação superior foi passando, protagonizando fortes e positivas rupturas com relação aos modelos acadêmicos arcaicos, endógenos e hierárquicos, que vão ficando para trás, dando lugar a novas estruturas e itinerários educativos. De acordo com os autores, potencializada pelas novas tecnologias, a educação superior tem se constituído num elemento chave e determinante dos processos de desenvolvimento humano na América Latina, por um lado, fortemente marcado pela pluralidade cultural e, por outro, pelas desigualdades socioeconômicas decorrentes da distribuição diferenciada de oportunidades de formação em nível superior. Na sequência, Claudia Alvarez e Sandra Milena Muñoz, escrevem sobre El aprendizaje como contribución a otro desarrollo desde lo local. Una acercamiento a la experiencia del bachillerato popular, em que procuram mostrar os vínculos entre o desenvolvimento local e a aprendizagem, a partir de uma construção econômica que compreenda o trabalho como eixo fundamental na transformação da sociedade, reconhecendo que ao longo da história existiram distintas economias e que muitas delas existem na atualidade e são transformadoras da realidade social, baseada em valores, princípios e relações que dão prioridade à reciprocidade, à solidariedade e aos contextos particulares em que se geram as necessidades e processos econômicos, sociais, culturais e políticos. Anabella Zamora, Marisa Fournier, Ruth Muñoz e Ana Luz Abramovic
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